Opinião

"Nesta terra, em se plantando, tudo dá!"

Por João Carlos M. Madail
Economista, Professor, Pesquisador e Diretor da ACP
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O mensageiro português Pero Vaz de Caminha, ao chegar ao Brasil em 1500, relatou em sua carta ao rei Dom Manuel de Portugal a famosa frase "Nesta terra, em se plantando, tudo dá", baseada apenas na costa do descobrimento, sem o conhecimento do restante do território brasileiro com enorme potencial agricultável que possui. Tudo começou com a cana-de-açúcar que até hoje continua ocupando um importante espaço na economia do País, pois é o maior produtor mundial. A partir dai vieram café, laranjas, soja, tabaco, cacau, milho e outros tantos cultivos que sustentam os mercados externos e internos. Como dá para constatar, o Brasil é uma potência mundial na produção agrícola e para atingir melhores resultados introduziu-se a tecnologia, cujo marco na transformação teve a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) como a responsável pela modernização e garantia de até três safras num mesmo ano agrícola com constante crescimento da produtividade e sucessivos recordes de safra.

Graças ao segmento agropecuário brasileiro, em 2023 o País fechou com superávit acumulado de US$ 148,58 bilhões - crescimento de 4,9% em relação ao ano anterior. O agronegócio contribuiu com 25% na composição do PIB que alcançou R$ 10,9 trilhões. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) considera apenas as atividades realizadas "dentro da porteira", como as atividades de cultivo agrícola, criação animal, extrativismo vegetal e pesca. As exportações brasileiras de produtos do agronegócio foram de US$ 13,51 bilhões em dezembro de 2023, um valor US$ 2,34 bilhões superior na comparação com o mesmo mês em 2022 que representou crescimento de 20,9%. O avanço de 8,8% na agropecuária no terceiro trimestre de 2023 diante de igual período em 2022 foi o componente que puxou a elevação do PIB de 2,9% em 2023. A expansão da Agropecuária foi impulsionada pelo desempenho de produtos com safras relevantes no terceiro trimestre, como milho (19,5%), cana-de-açúcar (13,1%), algodão herbáceo (12,5%) e café (5,9%). Houve contribuição positiva ainda da pecuária. Portanto, o crescimento do PIB brasileiro de 2,9% em 2023 ficou próximo da média global estimado em 3,1% pelo Fundo Monetário Internacional (FMI).

Para o ano de 2024, as perspectivas do agronegócio brasileiro são positivas, segundo o Rabobank Brasil, banco 100% agro. Com insumos mais baratos, maior pressão sobre as cotações da soja e milho, o que pode favorecer o segmento de proteínas e bons retornos para produtores de açúcar, café e laranja. Essas são tendências apontadas pelo relatório "Perspectivas para o agronegócio brasileiro - 2024", divulgado a pouco pela equipe de analistas do Rabobank Brasil. Em linhas gerais, as conclusões do trabalho formam uma miscelânea positiva para o agro, mas segundo analistas do banco, o ano que vem demandará mais uma vez cautela e boa gestão financeira no campo, sobretudo porque ainda há incertezas climáticas provocadas pelo fenômeno El Ninõ e sobram problemas logísticos.

Pero Vaz de Caminha, mesmo com uma pequena amostra do que viu ao desembarcar no Brasil, projetou ou adivinhou que o País teria dimensões continentais com uma das maiores biodiversidades do planeta, tanto que é praticamente difícil de listar todas as possibilidades de cultivos e variedades de frutas que existem na flora brasileira. Em condições normais, a previsão é de que o agronegócio brasileiro continuará crescendo passando dos atuais 60 milhões de hectares para aproximadamente 70 milhões de hectares, num período inferior a dez anos, com destaque para o nordeste de Mato Grosso, nas cidades de Santarém e Paragominas, no Pará, e Imperatriz, no Maranhão, todas as regiões com aumento no plantio de soja.

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